Prólogo



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              Neo-Tokyo, 2690. A mega metrópole criada com todo o auxílio humanitário após a 4ª guerra mundial, estava agora em risco de ruir: as ruas estavam desertas, duas horas após a ordem de evacuação central, vinda do mais alto cargo dos membros da aliança. 
                -Temos de ir Rahissa – Disse um vulto no meio da noite, avançando de encontro a uma mulher. Ambos estavam no topo norte dum dos maiores arranha-céus construídos na cidade.
                -Mais um segundo – Dizia a mulher, deixando que uma lágrima se soltasse. A gota caiu de encontro às ruas de Central District  – Não sei como é que isto terminou assim… Charles…
                Charles aproximou-se ficando atrás de Rahissa, encostou a sua face aos cabelos da sua amada. Sentiu o seu perfume. Tinha medo de perder tudo aquilo que mais amava. Rahissa pressentiu os medos do seu marido, abraçando-o sem o querer largar mais.
                -Amor, temos mesmo de ir… Eles querem fazer mal ao bebé, não podemos deixar que eles te toquem, és minha protegida, tenho de te levar para Harbenia o mais rápido possível.
                -Eles já lá chegaram?
                -Sim, e a qualquer momento vão sair de lá… E estarmos a demorar mais é comprometermos a vida do nosso filho, Rahissa… Comprometer a nossa missão.
                -Tens razão – Rahissa afastou-se do seu companheiro - Vamos levar o Kyrian daqui para fora, antes que seja tarde demais. – Com a mão erguida aos céu, Rahissa fez todas as luzes que iluminavam a cidade apagarem-se num raio de quilómetros.
                -Como é que … – Dizia Charles admirado – Não sabia que eras Techrion.
                -E não … Acho que o Kyrian é – Disse Rahissa sorrindo.
                -Não pode… - Disse Charles emocionado – Então…
                -O nosso bebé vai nascer esta noite, Charles.
                -Mas isso… Quer dizer… que a…
                -Sim, a profecia pode estar certa – Rahissa sorriu olhando para as estrelas e depois focou o olhar do seu marido - mas para isso temos que garantir que o nosso filho nasça em Harbenia, bem longe da Central District, não temos mais de 20 minu… - De repente dá-se uma explosão no edifício e este começa literalmente a tombar.
                -RAHISSA! – Num salto, Charles apanha Rahissa da queda para o abismo e com a mão aberta, um buraco negro é criado no ar e os dois desaparecem, reaparecendo mais à frente no topo de outro edifício.
                -Eles estão a fugir. Apanhem-nos. – Disse um vulto que se erguia em pleno ar.
                -CHARLES, CUIDADO!
                Um míssil vinha dirigido do topo de uma aeronave, em direcção ao edifício onde estavam. Com medo de perder o seu amado e num movimento desesperado, Rahissa cria uma barreira de luz evitando que o míssil explodisse em cima deles.
                -Estou fraca… - Disse Rahissa fazendo força contra a parede de luz a cerrar os dentes - não aguento a explosão por muito mais tempo, Charles!
                -Aos 3… - Apontou para o lado esquerdo da torre – Um… - Uma explosão no edifício estava a fazê-lo desabar – Dois… TRÊS! – Ambos saltaram para a Central District, desaparecendo do topo dos céus.
                Na queda, Charles abraçou Rahissa sentindo pela última vez o cheiro do seu perfume.
                -Eu amo-te – Disse Charles – Toma conta do nosso filho.
                -CHARLES – Disse assustada – NÃO!
                Sem esperar mais, Charles rodopia no ar, deixando Rahissa abaixo de si e projectando-a contra um portal acabado de criar. Charles estava agora sozinho e a única coisa que podia fazer era comprar tempo para que a sua mulher conseguisse salvar a criança que trazia no ventre. Ao atingir o solo de Neo-Tokyo, rapidamente da escuridão, criaturas cadavéricas saíam dos escombros, reanimadas pela radiação.
Acontecesse o que acontecesse, não podia deixar que aquelas criaturas o atingissem. Agarrando numa bomba de gás, atirou-a para a estrada principal à sua frente, mas assim que se atirou para dentro da onda de fumo, criou um portal, atirando-o para a zona contrária, centenas de metros à frente. Estava a salvo dos Hule, mas não de quem o estava a tentar capturar no topo do arranha-céus. Quem quer que fosse, não ia parar até atingir o bem mais precioso daquela missão: o ventre de Rahissa…
                “Aguenta-te Kyrian, por favor… aguenta-te.” Rezava Charles.
                A cerca de 20 quilómetros dali, Rahissa acordava do desmaio que tinha tido com a queda do portal, estava sobre uma pilha de lixo, rodeada por destroços de velhos edifícios. Levantou cuidadosamente a cabeça para não provocar ruído e reparou que a menos de 10 metros, estava um bando de Hule a devorarem uma carcaça, como se fossem abutres, notava-se que já tinham sido expostos a radiações há bastante tempo, pois das feições humanas, apenas restava o esqueleto, sendo que não possuíam quaisquer vestígios de carne, apenas pele e um líquido magenta que lhes circulava por aquilo que antes eram veias.
                “Tenho de sair daqui!” – Criando um campo de forças à sua volta, rodopiou da pilha de lixo, evitando pisar em plásticos ou vidros, para não produzir nenhum som. Mesmo podendo tornar-se invisível, sabia que não valia a pena, os Hule eram criaturas que se orientavam exclusivamente pelo seu sentido de audição e olfacto apuradíssimos, visto que os seus olhos rebentavam, assim que as radiações reanimavam os organismos.
                Assim que tocou com os pés no chão, o bando de cadáveres parou de comer a criatura dilacerada pelas bocas famintas.
                “Corre Rahissa, corre!” – Sem pensar um segundo, saltou para o meio da estrada e agarrou na Laser Quantum. Começou a disparar para os corpos que se moviam a alta velocidade ao seu alcance. O peso do bebé, fazia com que a sua agilidade fosse seriamente comprometida. Ao chegar a um cruzamento, bloqueou a rua anterior com um escudo, relativamente fraco, para ganhar tempo das criaturas. Sentia as garras dos Hule coléricos a atirarem-se para cima da barreira, na tentativa de a destruir. A sua mente era a barreira, a cada golpe dado contra o escudo, Rahissa sofria danos temporários na sua mente, sentindo-se cada vez mais fraca. Conforme corria, mais débil era a barreira que tinha criado. Para além disso, à sua frente uma tampa de esgotos acabava de ser rebentada e isso só significava uma coisa…
                “MAIS HULE?!” - Desesperada, Rahissa desistiu da barreira que tinha ficado para trás, bloqueando o esgoto com uma nova barreira, mas os seus poderes mentais estavam cada vez mais escassos. Disparando incansavelmente para trás, sentia cada vez mais o peso de Kyrian no seu útero.
                A visão de Rahissa estava a ficar turva, resultado dos danos dos golpes que os Hule infligiam na barreira. Se não parasse o escudo, poderia ficar cega. Desistiu dessa defesa e projectou uma barreira contra si própria, empurrando-se durante alguns segundos para a frente e dando-lhe algum avanço dos Hule. Faltavam 2 quarteirões para atingir os subúrbios de Neo-Tokyo, onde poderia ser evacuada por uma equipa de ex-combatentes da aliança que anos antes, tinha salvo aquela cidade.
                Os seus pés sangravam, atraindo o olfacto dos Hule, precisava fazer alguma coisa, não aguentava continuar a arrastar-se na barreira por muito mais tempo… As contracções de parto tinham começado e só um milagre a podia salvar de ser comida por Hule. Continuou a projectar-se para a frente e apercebeu-se da pickup que estava à sua espera no ponto de encontro, preparada para arrancar. Precisava de os avisar que eles estavam ali, mas foi então que Kyrian decidiu nascer.
                - AáááAaaAAAHH – Bradou Rahissa, caindo da sua própria barreira, no chão. Os Hule estavam a ganhar terreno à medida que Rahissa se arrastava pelo chão de encontro à viatura. – PAREM! AAHAH – Sentia as águas a rebentarem sobre as suas pernas, feridas das várias quedas que tinha dado… Respirando fundo olhou para a viatura a arrancar – PAREM POR FAVOR! – Esticando a mão, estoirou com vários postes de luz à sua frente, os poderes de Kyrian estavam a ficar cada vez mais presentes no parto.
                O bando de Hule estavam agora a menos de 5 metros e não havia nada a fazer. Rahissa fechou os olhos, suspirando e criando à sua volta a barreira mais forte que conseguia… Por si… Pelo filho dela e de Charles, pela prova que eles tinham existido, que o amor deles existia. Num grito de dor, Kyrian nasceu na noite negra, sobre o asfalto, rodeado de cadáveres esfomeados, mas nem passados dois segundos, com o choro do bebé, todos os postes eléctricos que estavam já quebrados, soltaram vários raios para o chão, estoirando a estrada em redor do bebé e da mãe, queimando a maioria dos Hule e afugentando os restantes.
                A barreira de Rahissa não iria aguentar muito mais tempo, esta esforçava-se por manter-se tão concentrada quanto conseguia na sua missão, mesmo tendo acabado de nascer o seu filho. Kyrian chorava assustado, sem dúvida que não estaria no ambiente receptivo que um bebé merecia.
                No limiar das suas forças, Rahissa aproveitou o facto de a maioria dos Hule se ter afastado, para agarrar no bebé e o entregar na carrinha. As suas pernas feridas e fracas não iriam resistir ao peso do seu corpo e o do bebé logo a seguir ao parto, mas tinha de tentar com todas as forças que tinha.
                Projectando a sua voz, Rahissa fez-se ouvir mentalmente pelos condutores que momentos antes tinham arrancado. “ESTOU VIVA! O KYRIAN ESTÁ AQUI! VENHAM JÁ!”. Ao longe, a carrinha inverteu a marcha acelerando em direcção a Rahissa, que cambaleava com o bebé ensanguentado nos braços a chorar…
                -Tem calma meu querido… Em breve vais ficar bem… Prometo que vou tomar conta de ti, onde quer que este… - Ao aperceber-se de um Hule atrás de si, voltou-se e agarrou o seu bebé com força. Gritou esticando a mão e os seus olhos bem como todos os orifícios da sua cara se iluminaram, fazendo com que a criatura simplesmente rebentasse no ar, espalhando vários pedaços putrefactos de cadáver pelo chão à sua volta…
                Rahissa caiu no chão, abraçada ao seu filho.
                Num segundo, um grupo de soldados cercou o bebé, disparando contra os vários Hule que vinham à carga. Um vulto apareceu da escuridão e apanhou o bebé. Sentiu o pulso do pescoço de Rahissa: estava morta. Abandonou o local, entrando de novo na pickup. Os soldados correram de encontro à viatura e num segundo depois, tinham partido na escuridão, abandonando Neo-Tokyo.
                Passam-se 5 minutos em que vários prédios vão explodindo em Neo-Tokyo, até que finalmente, uma bomba cai no meio da Central District. A noite ficou dia durante 1 minuto, e quando o clarão se apagou, o impacto fez-se sentir, rebentando com qualquer coisa que se mantivesse viva ou erguida… As ruínas daquela cidade, passaram a pó e tudo o que tinha ficado lá, era a memória de outrora. O que fora uma das maiores cidades e uniões globais que o planeta alguma vez veria tinha agora ali o seu fim. E assim caiu Neo-Tokyo.

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p.s. - Obrigado Roger!


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             >>Bem-Vindo!



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Utilizador: Kane Blitwun
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>>Data de Registo - 2670.05.10

(  . . .  )

"Espero que a ligação esteja criada... Acho que este é último terminal da Exorber... Resta-me pouco tempo. Estou a usar este terminal para registar os acontecimentos que vivi. Quem sabe, talvez num outro futuro eles sejam necessários.

Chamo-me Kane, mas a história que venho contar não é sobre mim. É sobre um rapaz chamado Kyrian e sobre um grupo de pessoas com capacidades únicas, com quem eu convivi e que decidiram desafiar quem queria extinguir a humanidade.

Eu não sei se eles conseguiram. Mas eu ainda aqui estou, a fazer a última missão para a qual estou destinado. Se alguém estiver aí, por favor não ignore estas mensagens... RESPONDAM!

Na realidade... Esta história começou há algumas décadas atrás..."

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